Não é de hoje que a boa comunicação tem sido fundamental para os governos se conectarem melhor com seus públicos. Sejam eles eleitores ou não, os cidadãos precisam estar informados sobre o que acontece nos âmbitos municipal, estadual e federal.
Recentemente, o presidente Lula (PT) trocou o ministro da Comunicação justamente porque a linguagem utilizada para se comunicar com jovens e adultos não estava surtindo efeito.
“Programas governamentais, descontos oferecidos em convênios e acontecimentos importantes que impactam a vida dos brasileiros não chegavam – e ainda não chegam como deveriam – ao público. Talvez por isso a popularidade do presidente e de sua gestão seja a mais baixa da história”, afirma Antonio Gelfusa Junior, publicitário e diretor da plataforma SP Regional.
“Percebemos um baixo investimento em publicidade – tanto impressa quanto digital – do governo federal para as mídias locais. Sem dúvidas, isso causa uma maior dificuldade de penetração dos programas e ações na comunidade. Não se trata apenas da imagem do político como pessoa, mas da imagem do governo, das promessas feitas em campanha e de suas realizações, que não chegam ao conhecimento do público”, completa.
GOVERNO FEDERAL. No âmbito nacional, o país tem feito poucas ações de publicidade na mídia impressa. Já nas digitais, há uma frequência um pouco maior, mas ainda muito tímida, conforme comentam diversos profissionais do setor.
Em contrapartida, Geraldo Alckmin (PSB), atual vice-presidente e ex-governador de São Paulo por quatro mandatos, mantinha um relacionamento mais próximo com as mídias regionais. Durante sua gestão, recebia representantes da categoria no Palácio dos Bandeirantes e tinha um plano constante de divulgação de suas ações.
Na época, a mídia regional realizava entrevistas com o governador, cobrava e denunciava problemas nas regiões de forma presencial, além de participar ativamente de conteúdos e campanhas publicitárias. Isso, sem dúvida, contribuiu para sua reeleição em 2014, ainda no primeiro turno, um feito histórico.
GOVERNO ESTADUAL. Por outro lado, a atual gestão do governador Tarcísio de Freitas (PR) tem sido mais inflexível quanto à publicidade e aos conteúdos ligados às mídias regionais. Nos últimos dois anos e meio, mais de 300 veículos locais tentaram se aproximar, mas sem sucesso. O governador Tarcísio e a secretária de Comunicação, Lais Vita, apesar das inúmeras tentativas, não receberam representantes da categoria para uma conversa institucional, entrevista ou bate-papo sobre os desafios do setor.
Questionada sobre a falta de reuniões e a ausência desses meios de comunicação nos planos de mídia do governo estadual, a Secretaria de Comunicação não deu qualquer resposta até o fechamento desta edição.
“Tarcísio de Freitas não foi eleito por uma base política consolidada em São Paulo. Ele não morava no estado e venceu as eleições na onda bolsonarista e de direita dos últimos anos. Independentemente da posição política de cada um, a imagem do governo perante as comunidades é fraca, com pouco reconhecimento. Ações do governo, como os programas Bom Prato, Metrô, Sabesp, Poupatempo, Fábricas de Cultura, entre outros, não são divulgadas nos bairros. Esse distanciamento pode prejudicar sua reeleição, especialmente se Alckmin for candidato”, analisa Gelfusa.
GOVERNO MUNICIPAL. Na contramão dessa postura, as prefeituras costumam estar mais próximas das regiões e distritos que administram. Um exemplo é o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).
Nunes já foi dono e diretor de um veículo de mídia regional no início de sua carreira e entende a importância desses meios para a aproximação com a população.
“Ricardo Nunes assumiu a prefeitura após a morte de Bruno Covas. Ele não era muito conhecido, mas abraçou pautas regionais que estavam atrasadas e se aproximou dos veículos de comunicação locais de forma respeitosa. Nas eleições de 2024, enfrentou Pablo Marçal – um coach de projeção nacional – e Guilherme Boulos, um líder de esquerda e deputado amplamente conhecido. Apesar da disputa acirrada, Nunes venceu, superando essas forças”, destaca Gelfusa.
A Prefeitura de São Paulo, em seu plano de comunicação e publicidade, tem divulgado temas relevantes, como o Cadastro do CadÚnico, a Operação Baixas Temperaturas, a Operação Altas Temperaturas, Smart Sampa, campanhas de descarte correto de lixo, Tarifa Zero aos domingos, entre outras iniciativas.
O secretário de Comunicação da cidade de São Paulo, Fabio Portela, que recebeu representantes das mídias locais em março deste ano, afirmou: “É preciso reconhecer e valorizar o trabalho da imprensa comunitária e o papel democrático que os jornalistas regionais desempenham para a cidade de São Paulo”.
INFORMAÇÃO E IMPACTO. Os programas governamentais, sejam eles municipais, estaduais ou federais, têm impacto direto na vida dos cidadãos, e garantir que a informação chegue a todos é um dever de cada gestão. A aproximação dos governos com a mídia regional não se resume apenas à publicidade paga ou gratuita, mas à necessidade de manter as ações governamentais acessíveis aos cidadãos.
“Descontos, inclusão em programas sociais, acesso a ações de saúde, cultura e educação são informações essenciais para a população. Os governos não devem reter essas informações; pelo contrário, divulgá-las é um direito do cidadão, e as mídias locais são fundamentais nesse processo”, finaliza Gelfusa.
